26 de julio de 2016

Primeras versiones más o menos definitivas y una imposible

TRADUCCIÓN (Mía) DE POEMAS DE LIVIA NATALIA

SOMETIMES

Às vezes é um vento mais forte
e ele vem de longe, tangendo as colinas
E as tardes se emancipam de mim,
como se fossem feitas de puro desejo.

Um azul intenso devora meus dedos
e os olhos, inteiros, são de oceano e vão
e eu estou perdida: não há portas
mas as chaves persistem,
pendendo de minhas mãos.

Um vento que me fala em uma outra língua
e, ainda assim, toda me devora,
e não há apelo,
e não há distância que o coloque de volta:
entra pelos meus cabelos
e faz deles sua mais perfeita morada.

Um vento, e eu de todo exilada.
Um vento, e eu desfeita,
calada.
Um vento e, pobre de mim,
sou toda feita de Água.




SOMETIMES

A veces es un viento muy fuerte.
Viene de lejos, tañendo las colinas.
Y las tardes se emancipan de mí
como si estuvieran hechas de puro deseo.

Un azul intenso devora mis dedos
y los ojos, enteros, son de océano y vacío.
Y yo estoy perdida: no hay puertas
pero las llaves siguen
colgando de mis manos.

Un viento que me habla en otra lengua
y, aún así, toda me devora.
No hay pedido,
no hay distancia que lo haga volver a su lugar:
entra por mis cabellos
y hace de ellos su más perfecta morada.

Un viento, y yo de todo exiliada.
Un viento, y yo deshecha,
callada.
Un viento y, pobre de mí,
toda hecha de Agua.




ORI ASÈ

Quando a quartinha canta,
prenhe de água absoluta,
um suntuoso aquário se tece
no breu de suas bordas.

Na sua voz de metafísica e nada
ouço a água doce e fria
de que está plena e emprenhada.

{Sua casca barrosa se limita
com o chão líquido do Orum
onde dançam Deuses de pele translúcida.}

Quando a quartinha estala a sua língua
saveiros dobram seus ombros nas docas
o mar respira, bebendo a si mesmo,
enquanto as ondas coçam as costas das pedras.

Onde canta o estalido
da quartinha
um Ori se planta no profundo.


ESQUECIMENTOS

Para minha Mãe


Se doer mais um pouco,
de minha boca sairão pedras
e tochas acesas devorarão minha carne.

Se doer só mais um pouco,
as palavras brotarão de meus poros
e minha boca se demorará em silêncios.

Se doer ainda mais,
nascerá um sangue bruto entre meus dentes

e meu útero perderá seus segredos de vazio.


OLVIDOS

Para mi madre

Si doliera un poco más
de mi boca saldrían piedras
y antorchas encendidas devorarían mi carne.

Si doliera solamente un poco más
las palabras brotarían de mis poros
y mi boca se demoraría en silencios.

Si llegara a doler todavía más
nacerá un torrente de sangre entre mis dientes

y mi útero perderá los secretos de su vacío.





O CASO DO VESTIDO

De tempo e traça meu vestido me guarda.
Adélia Prado


Meu corpo não respeita as estações.
Chove grosso em cada dobra da cidade
E eu trago comigo um vestido de verão intempestivo.


Meu corpo não cede e, vivo, arde no ligeiro das rendas,
nas maresias que lambem o ar.
Meu corpo não cede.

E o vestido que me desveste neste calor temporão
é todo bordado na minha pele:
por dentro.



EL CASO DEL VESTIDO

Del tiempo y las polillas me cuida mi vestido.
Adelia Prado

Mi cuerpo no respeta las estaciones.
Se llueve todo en cada esquina de la ciudad
y yo llevo un vestido de verano intempestivo.

Mi cuerpo no se rinde y, vivo, arde en la liviandad de los encajes,
en el aliento del mar que lame el aire.
Mi cuerpo no se rinde.

El vestido que me desviste en este calor temprano
está todo bordado en mi piel:
por dentro.




ORISA DIDÊ


Arranca as percatas de seu cavalo
e nele galopa com os pés no chão.
Solta um grito que se espeta no alto
e,
repetido,
saúda a terra com a majestade de sua presença.

Dança sem a calma das horas,
pois seus braços se erguem para fora do tempo.

Caminha com sua carne de mito
e, quando vai, não parte.
Apenas se banha em seu próprio mistério.

Lívia Natália


ORISA DIDÉ

Arranca las herraduras/estribos de su caballo
y en él galopa con los pies en el suelo.
Suelta un grito que se escucha en lo alto
y,
repetido,
saluda a la tierra con la majestad de su presencia.

Danza sin la calma de las horas
porque sus brazos se extienden por fuera del tiempo.

Camina con su carne de mito
y, cuando va, no parte.
Apenas se baña en su propio misterio.


Quadrilha


Maria não amava João,
Apenas idolatrava seus pés escuros.
Quando João morreu,
assassinado pela PM,
Maria guardou todos os seus sapatos.

Cuadrilla

María no amaba a Joao.
Apenas idolatraba sus pies oscuros.
Cuando Joao murió,
asesinado por la Policía Militar,
María guardó todos sus zapatos.




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